quinta, 26 de agosto de 2010
A Terra - IDH-Índice de Desenvolvimento Humano
Série: Terra, a nossa casa - parte 2
-Ninguém dentre vós vive para si mesmo ou morre para si
carta de Paulo aos Romanos (Rom 14,7-9).
- Na natureza nada se perde, nada se cria, tudo se transforma
Lei da Conservação da Massa ou apenas Lei de Lavoisier.(Lavoisier, 1789)
No artigo anterior citamos o último relatório da ONU/PNUD-2005 apontando classificações dadas pelo IDH-Índice de Desenvolvimento Humano à alguns países, incluindo o Brasil. Achamos conveniente explanar mais sobre o que quer dizer tal índice, seu cálculo e significado dos resultados, valores e do porque das posições na listagem de classificação. Assim, transcrevemos, com alguns comentários, seu histórico, objetivos, justificativas e a metodologia usada, segundo o exposto em: www.undp.org.br; www.frigoletto.com.br
O Relatório de Desenvolvimento Humano (RDH): - a cargo do PNUD, o relatório foi idealizado pelo economista paquistanês Mahbub ul Haq (1934-1998), com a colaboração do economista indiano Amartya Sen, ganhador do Prêmio Nobel de Economia de 1998. Atualmente, é publicado em dezenas de idiomas e em mais de cem países.
O conceito de Desenvolvimento Humano é a base do Relatório de Desenvolvimento Humano (RDH), publicado anualmente e também do Índice de Desenvolvimento Humano (IDH). Ele parte do pressuposto de que para aferir o avanço de uma população não se deve considerar apenas a dimensão econômica, mas também outras características sociais, culturais e políticas que influenciam à qualidade da vida humana. Esse enfoque é apresentado a partir de 1990 nos RDHs, que propõem uma agenda sobre temas relevantes ligados ao desenvolvimento humano e reúnem tabelas estatísticas e informações sobre o assunto. Utilizado como avaliador desde 1998 e com vantagens maiores e mais esclarecedoras do que um outro índice, o PIB.
O IDH - Índice de Desenvolvimento Humano: - o objetivo da elaboração do Índice de Desenvolvimento Humano é oferecer um contraponto a outro indicador muito utilizado, o Produto Interno Bruto (PIB) per capita, que considera apenas a dimensão econômica do desenvolvimento. O IDH pretende ser uma medida geral, sintética, do desenvolvimento humano. Não abrange todos os aspectos de desenvolvimento e não é uma representação da "felicidade" das pessoas, nem indica "o melhor lugar no mundo para se viver".
Noruega, atualmente, (até 2005), lidera o ranking e o Níger, (África subsaariana), está na última posição(*). Informamos que o IDH calculado parte do valor básico 0,0 indo até o valor 1,0.
Assim, quanto mais desenvolvido mais próximo de 1 , - variando num sentido crescente até 1,0 - , ou então, quanto menos desenvolvimento ter o país, estado ou município, onde foi aplicado tal cálculo, mais longe de 1,0 será o valor obtido. No caso da Noruega, o valor IDH esta mais próximo a UM e o Niger se apresenta mais afastado, decrescendo desse valor inicial, UM, portanto quanto mais próximo do ZERO, no caso, menos é o seu desenvolvimento.
(*) Noruega lidera o ranking novamente, com IDH de 0,963.
O Brasil aparece logo abaixo da Rússia e logo acima da Romênia;
12 países da América Latina e do Caribe têm desempenho superior ao brasileiro, entre eles México (53º no ranking, IDH de 0,814), Cuba (52º no ranking, IDH de 0,817), Uruguai (46º no ranking e IDH de 0,840), Chile (37º no ranking, IDH de 0,854) e Argentina (34º no ranking, IDH de 0,863). O país com pior índice é Níger, na África (177º, IDH de 0,281).
O Brasil ocupa a 63ª posição no ranking de 177 país analisados, aplicando-se o Índice de Desenvolvimento Humano (IDH), o que deixa o nosso país na área de desenvolvimento médio(*), segundo a última classificação divulgada neste início do mês de setembro/2005, (7/09/05). Nessa listagem, ele está atrás de outros sete latino-americanos, estes já considerados de alto desenvolvimento pelo IDH-2005 do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD): Argentina (34), Chile (37), Uruguai (46), Costa Rica (47), Cuba (52), México (53) e Panamá (56).
(*) O índice brasileiro passou de 0,790 em 2002 para 0,792 em 2003.
O país avançou em educação e longevidade, mas regrediu em renda.
Os itens utilizados para tal classificação foram: alfabetização, nível de escolaridade e renda per capta, onde a nossa nação está em uma posição logo atrás da Rússia, mas à frente de China (85) e Índia (127), por exemplo.
Quanto à expectativa de vida, mais uma vez, a Noruega é o país mais desenvolvido do mundo, com uma expectativa de vida de 79,4 anos e uma renda per capita de 37.670 dólares, seguido, nesta ordem, por Islândia, Austrália, Luxemburgo, Canadá, Suécia, Suíça, Irlanda, Bélgica e Estados Unidos. O país Níger tem uma expectativa de vida de 44,4 anos e rendimentos de 835 dólares anuais por habitante, fechando também a classificação. O bloco dos países com baixo desenvolvimento está praticamente ocupado por nações africanas. Mais informações, obter em: www.undp.org.br
O índice mostra com números claros e frios que muitos países não estão apenas fracassando na hora de progredir, mas que estão retrocedendo, e continuarão nesta trajetória a menos que a comunidade internacional se envolva para ajudar com mais recursos e novas políticas", disse Kevin Watkins, diretor do Pnud.
Doze dos 18 países que estão pior agora, (2005), do que em 1990 - data do primeiro relatório de desenvolvimento do PNUD pertencem à África subsaariana. A agência da ONU atribui os resultados aos efeitos da Aids. Os outros seis países que registram retrocessos no mesmo período são antigas repúblicas soviéticas, como Rússia, Ucrânia e Tadjiquistão.
Componentes aferidos no IDH: Além de computar o PIB per capita, depois de corrigi-lo pelo poder de compra da moeda de cada país, o IDH também leva em conta dois outros componentes: a longevidade e a educação. Para aferir a longevidade-L, o indicador utiliza números de expectativa de vida ao nascer. O item educação-E é avaliado pelo índice de analfabetismo e pela taxa de matrícula em todos os níveis de ensino. A renda-R é mensurada pelo PIB per capita, em dólar PPC (paridade do poder de compra, que elimina as diferenças de custo de vida entre os países). Essas três dimensões têm a mesma importância no índice, que varia de UM. a ZERO.
O nosso país está em 64º lugar no ranking de renda, pouco abaixo da posição no ranking do IDH, (63º). Para medir longevidade, o PNUD usa a esperança de vida ao nascer, que no Brasil subiu de 70,2 para 70,5 anos no período. Ainda assim, esta é um das dimensões em que o país se sai pior em comparação ao resto do mundo: é o 86º no ranking global.
Em educação, o relatório usa dois indicadores: taxa de alfabetização de pessoas com 15 anos ou mais de idade e taxa de matrícula bruta nos três níveis de ensino (relação entre a população em idade escolar e o número de pessoas matriculadas no ensino fundamental, médio e superior).
No caso brasileiro, a alfabetização é 88,4% (11,6% de analfabetismo), o que coloca o Brasil em 91º no ranking mundial. Já na taxa bruta de matrícula, que reflete melhor os avanços recentes na área, o Brasil fica em 26º; de 2002 para 2003, o índice aumentou de 90% para 91%.
Histórico do IDH:- Apesar de ter sido publicado pela primeira vez em 1990, o índice foi recalculado para os anos anteriores, a partir de 1975. Aos poucos, o IDH tornou-se referência mundial. É um índice-chave dos Objetivos de Desenvolvimento do Milênio das Nações Unidas e, no Brasil, tem sido utilizado e deve ser usado pelo governo federal e por administrações estaduais e municipais. O Índice de Desenvolvimento Humano Municipal (IDH-M), pode ser consultado no Atlas do Desenvolvimento Humano no Brasil, um banco de dados eletrônico com informações sócio-econômicas sobre os 5.507 municípios do país, os 26 Estados e o Distrito Federal.
O cálculo do IDH: - O IDH foi criado para medir o nível de desenvolvimento humano dos países a partir de indicadores de educação (alfabetização e taxa de matrícula), longevidade (expectativa de vida ao nascer) e renda (PIB per capita). Seus valores variam de 1 (desenvolvimento humano total) a 0 (nenhum desenvolvimento humano desenvolvimento humano total).
IDH-Municipal ou IDH-M: - o Índice de Desenvolvimento Humano também é utilizado para aferir o nível de desenvolvimento humano em municípios, denominando-se IDH-Municipal ou IDH-M e, embora meça os mesmos fenômenos (sub-ítens)- educação, longevidade e renda, os indicadores levados em conta não são os mais adequados para avaliar as condições de núcleos sociais ainda menores.
Cálculo do IDH-M(*) Índice de desenvolvimento humano do município: deve-se calcular os índices específicos de cada um dos três parâmetros analisados, ou seja:
IDHM-E, para a educação
IDHM-L, para a saúde (longevidade)
IDHM-R, para a renda
(*) - são determinados os valores de referência mínimo e máximo de cada categoria, que para tal índice, especificamente, serão equivalentes a 0 e 1, respectivamente, (cálculo do IDH-M).
Os sub-índices de cada município serão valores proporcionais dentro dessa escala, assim: quanto maior o desempenho municipal naquela dimensão, mais próximo o seu índice estará de 1 ou, caso contrário, quanto menor for o índice, mais afastado estará de 1 (mais próximo de zero).
O IDH-M de cada município é a média aritmética desses três índices específicos: somam-se os valores e divide-se o resultado por três (IDHM-Educação + IDHM-Longevidade + IDHM-Renda /3).
Assim, o IDHM-E (educação) de um município é dado pela fórmula: (2A+F/3).
(*A tem peso igual a 2 e F tem peso 1)
Para o cálculo do IDHM-L (longevidade), determina-se a expectativa de vida ao nascer no município (EVNM) e usa-se a fórmula IDHM-L = (EVNM 25) / (85 25), ou seja: EVNM = esperança ou expectativa de vida ao nascer, no município
MxLE = máximo de longevidade esperada (convenção) = 85 anos
MnLE = mínimo de longevidade esperada (convenção) = 25 anos
Finalmente, para se calcular o IDHM-R, determina-se a renda municipal per capita (Rmpc) e, em seguida, aplica-se a fórmula: IDHM-R = log10(Rmpc/3,9)/2,6.
e.t.: equações ajustadas de forma que os três subíndices, IDHM-E, IDHM-L e IDHM-R, estejam entre 0 e 1.
Então.
Educação: No tocante à educação, o cálculo do IDH-M-E considera dois indicadores, com pesos diferentes: a (*) taxa de alfabetização (A) de pessoas acima de 15 anos de idade, com peso 2, e a taxa bruta de freqüência à escola (F), com peso 1.
O primeiro indicador resulta da seguinte divisão: o número de pessoas do município com mais de 15 anos de idade(*) capazes de ler e escrever um bilhete simples (ou seja, adultos alfabetizados) dividido pelo número total de pessoas com mais de 15 anos de idade residentes no município.
O segundo indicador resulta de uma conta simples: o somatória do número de indivíduos residentes no município que estão freqüentando a escola (**), independentemente da idade, dividido pela população residente no município na faixa etária de 7 a 22 anos de idade.
(*) Pelo calendário do Ministério da Educação-Br, aos 7 anos uma criança já deve iniciar o primeiro ciclo do ensino fundamental. Aos 15 anos, o jovem deve ingressar na primeira série do ensino médio, e, aos 22 anos, concluir o ensino superior. Esse calendário indica que a maioria da população deveria estar envolvida no processo de aprendizado entre as idades de 7 e 22 anos. Por isso, ao se avaliar o acesso das pessoas ao conhecimento, divide-se o total de alunos nos três níveis de ensino pela população total dessa faixa etária. A esse indicador se dá o nome de taxa bruta de freqüência escolar(**).
(**)Taxa bruta de freqüência escolar: - alunos matriculados nos cursos fundamental, médio e superior, inclusive os cursos supletivos de primeiro e de segundo graus, de classes de aceleração e de pós-graduação universitária. e.t: apenas classes especiais de alfabetização são descartadas para efeito do cálculo.
Se considerarmos que as taxas de alfabetização e de freqüência já variam entre 0 e 1 (0% a 100%), torna-se desnecessário "convertê-las" em um índice, como nas dimensões saúde e renda. É preciso apenas aplicar os pesos de cada indicador para se chegar a uma média. (lembremos que: - a taxa de alfabetização (A) de pessoas acima de 15 anos de idade, com peso 2, e a taxa bruta de freqüência à escola (F), com peso 1 )
Se o município em questão tem uma taxa bruta de freqüência à escola igual a 85% e uma taxa de alfabetização de 91%, o cálculo será assim:
[0,85 + (2 x 0,91)] / 3 => (0,85 + 1,82) / 3 => 2,67 / 3 = 0,89.
Logo, o IDHM-E do município será 0,89.
Longevidade: Com relação à longevidade(***), o IDH-M-L leva-se em conta o número médio de anos que uma pessoa nascida no município, no ano de referência, deve viver, ou seja, a expectativa de vida (EVNM) no município referente a esse ano.
(***) Indicador de longevidade: - sintetiza as condições de saúde e salubridade local, uma vez que quanto mais mortes houver nas faixas etárias mais precoces, menor será a expectativa de vida observada no local.
Obs.: - o cálculo da Esperança/expectativa de vida ao nascer-EVN é complexo e envolve várias fases. No caso as estatísticas do registro civil são inadequadas. Por isso, para o cálculo do IDH municipal optou-se por técnicas indiretas até para se chegar às estimativas de mortalidade. A base são as perguntas do Censo sobre o número de filhos nascidos vivos e o número de filhos ainda vivos na data em que o Censo foi feito. A partir daí são calculadas proporções de óbitos.
Aplica-se, então, uma equação (?) que transforma essas proporções em probabilidade de morte. A próxima etapa será transformar essas probabilidades em tábuas de vida, de onde é extraída a esperança de vida ao nascer.
Para transformar esse número de anos em um índice, usa-se como parâmetro máximo de longevidade, 85 anos, e, como parâmetro mínimo, 25 anos. Assim, se o município em questão tem uma esperança de vida ao nascer de 70 anos, seu IDHM-L será:
(70 - 25) / (85 - 25) => 45 / 60 => IDHM-L = 0,750.
Logo, o IDHM-L (longevidade) do município será 0,750.
Renda: Para a avaliação da renda, o critério usado é a Renda municipal per capita (R) (****), ou seja, a renda média de cada residente no município. Para se chegar a esse valor, soma-se a renda de todos os residentes e divide-se o resultado pelo número de pessoas que moram no município (inclusive crianças ou pessoas com renda igual a zero).
(****) - no caso brasileiro, o cálculo da Renda municipal per capitaR é feito a partir das respostas ao questionário expandido do Censo um questionário mais detalhado do que o universal e que é aplicado a uma amostra dos domicílios visitados pelos recenseadores. Os dados colhidos pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) através dessa amostra do Censo são expandidos para o total da população municipal e, então, usados para o cálculo da dimensão renda do IDH-M.
A renda média municipal per capita indica a renda média dos indivíduos residentes no município expressa em reais. Assim, por exemplo: pela cotação do dia 1 agosto de 2000. Os valores são extraídos do questionário da amostra do Censo. A partir da pesquisa do IBGE soma-se todo tipo de renda obtida pelos moradores aquele município (inclusive salários, pensões, aposentadorias e transferências governamentais, entre outros). E a somatória é divida pelo número total de habitantes do município. O resultado é a Renda municipal per capita-R.
Atenção - Para transformar a Renda municipal per capita em um Índice-I é feito uma série de cálculos.
Primeiro convertem-se os valores anuais máximo e mínimo expressos em dólar PPC (Paridade do Poder de Compra), adotados nos relatórios internacionais do Pnud - Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (US$ PPC 40.000,00-máximo e US$ PPC100,00-mínimo, respectivamente), em valores mensais expressos em reais: R$ 1.560,17-máximo e R$ 3,90-mínimo.
Em seguida, são calculados os logaritmos da renda média municipal per capita e dos limites máximo e mínimo de referência. O logaritmo é usado porque ele expressa melhor o fato de que um acréscimo de renda para os mais pobres é proporcionalmente mais relevante do que para os mais ricos. Ou seja: R$ 10,00 a mais por mês para quem ganha R$ 100,00 proporciona um maior retorno em bem-estar do que R$ 10,00 para quem ganha R$ 10.000,00.
Finalmente, para se chegar ao índice de renda municipal (IDHM-R) aplica-se a fórmula a seguir:
IDH-R = (log de renda média municipal per capita - log do valor de referência mínimo) / (log do valor de referência máximo - log do valor de referência mínimo).
e.t.: - renda média municipal per capita = soma-se a renda de todos os residentes e divide-se o resultado pelo número de pessoas que moram no município;
- valor de referência mínimo = PPCmi (Paridade do Poder de Compra, valor mínimo, em reais);
- valor de referência máximo = (Paridade do Poder de Compra, valor máximo, em reais)
Assim: - para um município com renda municipal per capita de R$ 827,35, o cálculo ficaria assim:
DHM-R = (log R$ 827,35 - log R$ 3,90) / (log R$ 1.560,17 - log R$ 3,90) = 0,894.
Consulta
- Disponível no portal: www.frigoletto.com.br
- ONU/PNUD-2005. - www.undp.org.br.
"Os líderes mundiais que se reunirão aqui, deveriam levar estes dados a sério porque
têm o poder de inverter esta tendência profundamente
perturbante", apelou K. Watkins-ONU/PNUD, 2005
Helcias Bernardo de Pádua
helcias@portalbonito.com.br
11-9568.0621
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Professor Helcias Bernardo de Pádua, Biólogo-C.F.Bio 00683-01/D; Conferencista em "Qualidade das águas"; Especialista em Biotecnologia-C.R.Bio 01; Analista Clínico - Hosp.Clínicas SP; Professor de Biologia e Ciências-L-94.718-DR 5 - MEC, desde 1975; Consultor, professor e colunista; Memorista-AGMIB/Assoc. Grupo de Mem. do Itaim Bibi/SP; Graduando em Jornalismo/FaPCom