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terça, 02 de outubro de 2007

Embrapa captura 220 jacarés para pesquisa no Pantanal

Embrapa Pantanal

O Projeto Jacaré, desenvolvido na Embrapa Pantanal, em Corumbá (MS), acaba de completar 21 anos de atividades de campo. As pesquisas começaram em setembro de 1986 e foram renovadas com o título "Padrões de movimento e reprodução do jacaré-do-Pantanal e jacaré-paguá como indicadores de mudanças climáticas e antrópicas em longo prazo nos biomas brasileiros" pelo Macroprograma 3 em 2007.

Nos dias 15 a 19 de setembro, a pesquisadora Zilca Campos e sua equipe José Augusto Dias da Silva, Henrique de Jesus, Vandir Dias da Silva e Dênis Celin Tilcara capturaram 220 jacarés nas fazendas Alegria, Campo Dora e Dom Valdir, no Pantanal da Nhecolândia (MS).

Entre as capturas, 11 foram jacarés que já tinham sido capturados e marcados há 19 anos (e 250 dias), 18, 11, 8 e um ano atrás. "O valor científico desses resultados é grandioso e inédito para a espécie", disse Zilca.

Ela agradece aos proprietários das fazendas envolvidas com as pesquisas e ao pessoal de sua equipe pelo entusiasmo e determinação nas atividades de captura e recaptura deste ano. "Sem a ajuda da equipe, seria impossível. Sozinho ninguém faz nada."

TRAJETÓRIA

Nesses 21 anos, segundo Zilca, foram capturados quase 6 mil jacarés. A maioria da espécie Caiman yacare, conhecido como jacaré-do-Pantanal. Os animais foram capturados e marcados nas fazendas citadas acima e também na Nhumirim, da Embrapa Pantanal (unidade da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária, vinculada ao Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento - MAPA). Recentemente a pesquisadora começou a estudar o jacaré-paguá (Paleosuchus palpebrosus) nos riachos e rios do entorno do Pantanal, espécie pouco conhecida para a ciência e que já sofre com as mudanças antrópicas na sua área de distribuição.

"Com esse trabalho conseguimos monitorar o crescimento, a movimentação e vários parâmetros populacionais", disse ela. Uma descoberta inédita neste período foi o comportamento do jacaré-do-Pantanal de formar bandos e andar em fila indiana entre poças e lagoas, principalmente no período seco no Pantanal, de agosto a novembro. Esse comportamento foi observado há cerca de dez anos e publicado na revista científica internacional Copeia em 2003.

Zilca disse que os jacarés são espécies de vida longa - vivem de 40 a 50 anos na natureza - e os estudos precisam de longo prazo para entender sua história de vida e seus requerimentos de habitats. Em anos muito secos seles podem morrer por predação, infestação de parasitas, etc", explicou.

O jacaré é um animal semi-aquático e consegue ficar até uma hora submerso. Depois desse período, ele precisa estar com o focinho fora da água para respirar.

A pesquisadora também observou que os jacarés andam bastante. "Um deles, com 10 anos, chegou a andar 20 quilômetros", afirmou. O monitoramento é feito em uma área de 50 km² e Zilca pretende expandir o espaço de observação e captura.

Ela conta que outras espécies também têm o hábito de andar bastante. Há relatos de outras espécies de crocodilianos que andam 50 quilômetros. Um deles, na Austrália, chegou a andar mil."

As capturas geralmente são feitas à noite, com uso de lanternas de cabeça e de mão. "Mas durante o dia é mais fácil. Os meses escolhidos para a busca são agosto e setembro, período de estiagem no Pantanal.

Atualmente a captura é feita uma vez por ano. Os animais são marcados com brincos de plástico na cauda (vermelhos ou azuis para os machos e amarelos ou verdes para as fêmeas).

Também é possível marcá-los com uma combinação numérica feita nas cristas duplas e simples. Neste caso, não há risco da marcação se perder porque a crista cortada não se refaz.

Quando começou a trabalhar na Embrapa Pantanal, Zilca pesquisava capivaras. Ela encontrou 36 grupos de capivaras na fazenda Nhumirim em 1984 e 1985 e disse que identificava grupo por grupo nas cem lagoas da propriedade. "Nesse período praticamente morei na fazenda", contou.

Aos poucos ela foi se interessando pelos jacarés, animal que foi tema de sua dissertação de mestrado e de sua tese de doutorado. Desde 1986 a pesquisadora se dedica aos crocodilianos. Nesses 21 anos também pesquisaram jacarés os pesquisadores da Embrapa Guilherme Mourão, Sandra Santos, Marcos Coutinho, Max da Silva Pinheiro e de outras instituições de pesquisa do Brasil.

VIAGEM

Nesta segunda-feira, dia 1º de outubro, Zilca Campos, José Augusto e Dênis Tilcara saíram de viagem com o estudante de doutorado William Vasconcelos, do Inpa/Ufam (Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia e Universidade Federal do Amazonas). Eles vão fazer coletas nas bacias do Alto Paraguai e Amazônica, mais precisamente nos rios Paraguai, Guaporé e Madeira.

William explicou que o objetivo da pesquisa é verificar se os jacarés da Amazônia e do Pantanal são duas unidades evolutivas diferentes ou uma variação apenas no fenótipo (aparência).

Os pesquisadores vão para áreas onde as duas linhagens convivem para observar se há reprodução entre elas, se ocorre hibridagem e se há mistura de caracteres. "O estudo vai usar a genética como ferramenta para responder a perguntas", disse William.

Segundo ele, os resultados terão implicações diretas na conservação e na legislação envolvendo os animais.

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