quinta, 17 de abril de 2008
MS Notícias
Misturando autenticidade e posições polêmicas, o arquiteto holandês, Johan Van Lengen (o "Arquiteto Descalço"), considerado o "papa" mundial da bioconstrução, fez críticas à área urbana de Bonito e não poupou o que ele chama de "arquitetura de escritório" rebatizando-a de "masturbatura". As declarações e posicionamentos aconteceram durante o curso "Bioconstruindo Bonito 2008" ministrado por ele e seu filho, Peter Van Lengen, de 09 a 13 de abril, no Ecoparque La Paloma, em Bonito, no Mato Grosso do Sul.
Mesmo sem culpar, pontualmente, e em nenhum momento a administração pública, Lengen afirmou que a arquitetura da cidade de Bonito está completamente dissociada de sua potencialidade natural, flagrante em seu entorno. "A natureza do município é linda, mas a cidade propriamente dita, precisa de outra atitude; e não por ausência de bons profissionais, pois vi casas e prédios muito bem feitos; o problema é que a cidade não está integrada à natureza; falta esta identidade", comentou.
Considerando que "ainda dá para recuperar Bonito", Lengen, que também é urbanista, fez algumas observações como forma de colaboração para futuras intervenções: "faltam lugares de convívio público; além disso, é visível que a cidade foi construída para quem tem carro e não valoriza o ser humano, o pedestre". O arquiteto não comentou, mas Bonito está passando por uma revitalização em sua principal via urbana, a Rua Pilad Rebuá.
Johan Van Lengen nasceu na Holanda e, nos anos 70, deixou uma ascendente carreira de arquiteto, na Califórnia, EUA, para se dedicar a melhoramentos em habitações populares. Neste sentido trabalhou para várias agências governamentais, sobretudo na América Latina. No Brasil, fundou o Instituto de Tecnologia Intuitiva e Bio-Arquitetura (TIBÁ), em Bom Jardim, interior do Estado do Rio de Janeiro, onde desenvolve técnicas e instrumentos de arquitetura integrados com a natureza.
MASTURBATURA
Durante o curso, em Bonito/MS, o "Arquiteto Descalço" - como é conhecido em função do seu best seller "Manual do Arquiteto Descalço", lançado em 1991 no México - fez também críticas à postura ao que ele chama arquitetura de escritório. "É uma atividade executada totalmente fora da realidade das regiões; trata-se, na verdade, de uma masturbatura; projetam-se caixotes para moradia pública quando a necessidade é outra", disparou.
De acordo com o arquiteto holandês, o Brasil ainda tem condições de construir cidades agradáveis e auto-sustentáveis para se morar. Ele cita como exemplo as ecovilas que são modelos de "assentamentos" humanos sustentáveis. Tudo com o apoio da ONU. "Só como parâmetro, não é possível construir ecovilas em vários países da Europa que estão totalmente estragados; na Holanda, para se ter uma idéia, a água de beber vem toda importada da França", frisou.
No entanto, apesar das condições naturais propícias no Brasil para o erguimento de cidades mais agradáveis, ecovilas e o desenvolvimento da bioconstrução como alternativa para moradias populares, Lengen vê algumas dificuldades: "muitas terras brasileiras estão sendo adquiridas por estrangeiros e faltam escolas para várias profissões básicas, como carpinteiros e bombeiros hidráulicos".
Ao mesmo tempo em que é defensor da adoção de planos diretores para todas as áreas urbanas, o arquiteto holandês faz um alerta: "em várias situações, escritórios estão vendendo planos diretores engessados; é o mesmo pacote para várias cidades; só mudam os nomes".