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quinta, 10 de abril de 2008

Integridade dos ecossistemas na gestão ambiental em Bonito

Agência USP de Notícias

Por: Valéria Dias
valdias@usp.br

Os rios, os lagos e as inúmeras cachoeiras da cidade de Bonito, no Mato Grosso do Sul (MS), fizeram do lugar um dos mais importantes pólos de ecoturismo do Brasil. Porém, algumas atividades turísticas realizadas no Rio Formoso, um dos principais da região, podem causar danos ao ambiente, como aponta uma pesquisa de doutorado apresentada na Escola de Engenharia de São Carlos (EESC) da USP em dezembro de 2007.

Pesquisador avaliando a integridade do fundo do Rio Formoso

"Os passeios de bote e o pisoteio por parte dos banhistas podem danificar as tufas, formações calcárias encontradas ao longo do rio, e que são semelhantes a pequenas cachoeiras. Elas levam centenas de anos para se formarem a partir da sedimentação do calcário", explica o autor da pesquisa, o biólogo Paulino Barroso Medina Júnior.

O pesquisador sugere que a avaliação da integridade física e biológica dos ecossistemas utilizados para o turismo em Bonito passe a ser usada como ferramenta de monitoramento e gestão ambiental do lugar. "Para avaliar e monitorar o impacto ambiental causado pelo turismo na região, percebemos que a erosão nas tufas e nas margens do rio, bem como a riqueza de invertebrados bentônicos - pequenos organismos que vivem no fundo do rio - são os indicadores ambientais mais adequados do que a simples medição da qualidade da água", informa.

Tufas são formações calcárias que levam centenas de anos para se formarem

A cidade de Bonito está localizada no Planalto da Bodoquena, a sudoeste do estado de MS, distante 300 quilômetros da capital, Campo Grande. Por ter formação calcária, a região apresenta rios de águas transparentes que oferecem grande visibilidade ao visitante e são muito procuradas para atividades aquáticas, como mergulho e flutuação.

A coleta de dados ocorreu em fevereiro de 2006, no período do Carnaval. Medina Junior analisou 16 empreendimentos localizados ao longo do rio Formoso que oferecem atividades como passeios de bote, arvorismo, trilhas, mergulho, flutuação, banhos no rio e bóiacross, entre outros. "O Rio Formoso tem cerca de 100 quilômetros de extensão. Alguns empreendimentos ocupam 40 metros do rio, outros, dois quilômetros", informa o biólogo, que é professor da Universidade para o Desenvolvimento do Estado e da Região do Pantanal (UNIDERP) e fiscal ambiental do Instituto de Meio Ambiente de Mato Grosso do Sul (IMASUL), órgão ligado à Secretaria de Estado do Meio Ambiente, das Cidades, do Planejamento, da Ciência e Tecnologia (Semac) do MS.

"A maioria desses empreendimentos está operando sem se adequar às licenças ambientais", informa o pesquisador. De acordo com Medina, eles deveriam apresentar estudos ambientais apropriados e propostas de controle e monitoramento ambiental junto ao IMASUL. "Também é recomendável a realização de uma avaliação específica dos impactos ambientais já gerados pelas atividades em funcionamento e sem a devida licença ambiental."

Erosão nas margens: um dos indicadores ambientais mais adequados para a gestão ambiental

Indicadores adequados

Em cada trecho do rio onde havia atividade turística, o pesquisador recolheu material e analisou as características físicas e químicas da água, os sedimentos (fundo do rio), as tufas, os organismos bentônicos e realizou a caracterização visual do ambiente (presença de erosão, vegetação, condição das margens, ocorrência de habitats para organismos aquáticos ao longo do rio, etc). O biólogo pesquisou também a mata ribeirinha ao longo das duas margens, em uma extensão de 100 metros e a infra-estrutura e as atividades oferecidas pelos empreendimentos.

As análises também permitiram identificar que as atividades em que o visitante apresenta maior contato com o fundo do rio e com as tufas calcárias são as que podem causar maior dano ao ambiente. O arvorismo, no qual o turista tem menor contato com o ambiente aquático, é a atividade que causa menor dano ao rio.

O pesquisador lembra que as áreas visitadas na região são muito sensíveis e que atividades agressivas podem trazer prejuízos. "Usar os indicadores ambientais errados, como o ph e a temperatura da água, por exemplo, para avaliar o impacto ambiental do turismo sobre esses ecossistemas aquáticos pode ser uma estratégia equivocada para monitorar e conservar os ambientes naturais da região. Conseqüentemente, a gestão ambiental da atividade fica comprometida", adverte.

Apesar de ser proibido e de haver placas alertando, turistas sobem nas tufas

Turistas
Medina Junior aplicou um questionário a 373 visitantes dos empreendimentos de turismo situados às margens do Rio Formoso e constatou que quanto menor o grau de exigência ambiental do visitante, maior a tolerância deste com os impactos ambientais provocados pelo turismo nas áreas visitadas. "A maior parte dos turistas possuía nível universitário e, mesmo tendo acesso a informações ambientais, apresentavam um mau comportamento ao utilizarem o rio em suas atividades turísticas", afirma o pesquisador. "Há placas indicando para as pessoas não subirem nas tufas, mas muitas subiam mesmo assim", exemplifica.

De acordo com o pesquisador, o interesse em estudar o tema surgiu ao constatar que haviam poucas pesquisas sobre o impacto ambiental causado por atividades turísticas em ecossistemas aquáticos. "Estudos científicos que subsidiem a correta avaliação e monitoramento ambiental dos impactos da visitação pública sobre os ecossistemas do Planalto da Bodoquena são indispensáveis para a correta Gestão Ambiental do turismo na região", afirma o biólogo.

Imagens cedidadas pelo pesquisador Paulino Barroso Medina Junior

Mais informações: (0XX67) 3355-5063, (0XX67) 8407-7101 ou e-mail medinajr@bol.com.br. Pesquisa orientada pelo professor Evaldo Luíz Gaeta Espíndola

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