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terça, 08 de abril de 2008

Ecoturismo ameaça belezas naturais de Bonito no MS

24Horas News

As belezas naturais de Bonito, no Mato Grosso do Sul, que atraem milhares de turistas todos os anos, podem estar ameaçadas. As atividades de ecoturismo realizadas no rio Formoso, o principal da região, com lagos, cachoeiras e grutas, estão causando danos ao meio ambiente. As informações fazem parte do estudo realizado por Paulino Medina Júnior, professor da Universidade para o Desenvolvimento do Estado e da Região do Pantanal (Uniderp) e fiscal ambiental do Instituto de Meio Ambiente de Mato Grosso do Sul (Imasul), órgão ligado à secretaria de meio ambiente do estado.

Segundo o professor, os ecossistemas naturais de Bonito, assim como de toda a região do Planalto da Bodoquena, onde está localizado o município, no sudoeste de Mato Grosso do Sul, são muito sensíveis. "Mesmo assim, a demanda turística na região é grande e crescente, o que nem sempre vem acompanhado da devida gestão ambiental. Além disso, os impactos gerados não são tão evidentes como aqueles provocados pela poluição urbana, por exemplo. Assim, tem-se a falsa impressão de que não existem impactos", relata Medina.

Há 300 quilômetros da capital, Campo Grande, Bonito dispõe de rios de águas transparentes que oferecem grande visibilidade ao visitante. A explicação para as águas serem límpidas é que elas são ricas em minerais (bicarbonato de cálcio e bicarbonato de magnésio), provenientes do calcário, rocha abundante na região.

Diante disso, o pesquisador sugere que a avaliação da integridade física e biológica dos ecossistemas utilizados para o turismo em Bonito passe a ser usada como ferramenta de monitoramento e gestão ambiental do lugar. "Para avaliar e acompanhar o impacto no meio ambiente causado pelo turismo na região, percebemos que a erosão nas tufas (formações calcárias que levam centenas de anos para se formarem) e nas margens do rio, bem como a riqueza de pequenos organismos que vivem no fundo do rio são os indicadores ambientais mais adequados do que a simples medição da qualidade da água", afirma.

Medina acredita que algumas medidas devem ser tomadas para preservar o local. Uma deles seria promover pesquisa científica na região, de forma a produzir informações que subsidiem o conhecimento e a correta gestão ambiental dos ecossistemas locais. "A correta seleção de indicadores para o monitoramento de impactos ambientais do turismo na localidade é uma das questões que podem ser supridas com a pesquisa científica. O envolvimento da comunidade e a educação ambiental focada no turismo de mínimo impacto também são imprescindíveis para a gestão ambiental do turismo na região", comenta o professor.

A coleta dos dados da pesquisa ocorreu em fevereiro de 2006, alta temporada devido ao período de Carnaval. Medina analisou 16 empreendimentos localizados ao longo do rio Formoso que oferecem atividades como passeios de bote, arvorismo, trilhas, mergulho, flutuação, banhos no rio, bóiacross, entre outros. "O Rio Formoso tem cerca de 100 quilômetros de extensão. Alguns empreendimentos ocupam 40 metros do rio, outros, dois quilômetros", informa o pesquisador.

De acordo com Medina, a maioria dos empreendimentos está operando sem se adequar às licenças ambientais. Segundo ele, os estabelecimentos deveriam apresentar estudos do meio ambiente apropriados e propostas de controle e monitoramento ambiental junto ao Imasul. "Também é recomendável a realização de uma avaliação específica dos impactos ambientais já gerados pelas atividades em funcionamento e sem a devida licença ambiental", explica.

Medina informa ainda que o impacto do turismo não está necessariamente ligado ao número de visitantes, mas sim às estratégias de manejo da atividade. De acordo com o pesquisador, ao invés de se adotar políticas voltadas ao número de visitantes, deve-se trabalhar com o monitoramento e manutenção das condições ambientais do local visitado. "Dessa forma, o comportamento dos turistas, a disponibilidade de infra-estrutura adequada, a sensibilidade do ecossistema e a capacidade gerencial do gestor da área visitada, podem ser fatores decisivos na gestão ambiental da atividade turística em um determinado local".

O biólogo afirma que dez turistas mal comportados em um local com infra-estrutura inapropriada, por exemplo, podem causar muito mais impacto do que 100 turistas com comportamento adequado em um local devidamente estruturado. "Então, não podemos mais continuar tratando o gerenciamento do impacto do turismo simplesmente como questão de número de visitantes", argumenta.

Base da pesquisa

Em cada trecho do rio onde havia atividade turística, o biólogo recolheu material e analisou as características físicas e químicas da água, os sedimentos do fundo do rio, os organizamos que também vivem nas profundezas e as tufas. Medina ainda realizou a caracterização visual do ambiente, verificando a presença de erosão, da vegetação, da condição das margens e da ocorrência de habitats para organismos aquáticos ao longo do rio. Além disso, o professor pesquisou a mata ribeirinha ao longo das duas margens, a infra-estrutura e as atividades oferecidas pelos pólos turísticos.

A constatação do pesquisador é que as atividades em que o visitante apresenta maior contato com o fundo do rio e com as tufas calcárias são as que causam maior dano ao ambiente. Já o arvorismo, por exemplo, no qual o turista tem menor contato com o ambiente aquático, é a atividade que menos agride o rio. A pesquisa de doutorado de Medina foi apresentada na Escola de Engenharia de São Carlos (EESC) da Universidade de São Paulo (USP) em dezembro de 2007.

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