sexta, 11 de janeiro de 2008
Embrapa Pantanal
O conhecimento tradicional do homem pantaneiro é transmitido de geração para geração há pelo menos 200 anos. Na fazenda Nhumirim, da Embrapa Pantanal, em Corumbá (MS), os peões se orgulham de produzir boa parte do material que utilizam na lida com animais. E eles estão repassando a técnica aos peões mais novos e às crianças que estudam na escola da fazenda.
Márcio da Silva, que trabalha desde 1979 na Embrapa Pantanal (Corumbá-MS), Unidade da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária - Embrapa, vinculada ao Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, diz que os peões confeccionam laços, rédeas, peiteiras, cabeça de carona (couro usado por baixo do baixeiro), chicotes e outras peças de montaria.
O trabalho artesanal é feito nas horas de folga, principalmente aos domingos, de forma improvisada. Não existe uma oficina própria para a confecção.
"Aprendi com o tempo, com a luta. A gente vai crescendo nisso. Os mais novos estão aprendendo", disse Márcio.
Segundo ele, a matéria-prima vem de vacas abatidas na fazenda. "Antigamente a Embrapa comprava todo esse material. Hoje não. Fazemos tudo aqui. E a qualidade é melhor que a dos materiais comprados na cidade", afirmou.
O funcionário Armindo Ângelo Gonçalves trabalha na Embrapa há 19 anos e também mora na Nhumirim. Ele conta que aprendeu a fazer os artefatos quando tinha 13 anos, "vendo os antigos funcionários de fazenda produzindo".
Armindo diz que gosta de fazer todas as peças. "Trançar laço distrai a cabeça." O peão considera gratificante transmitir esse conhecimento aos mais novos. Além de ensinar filhos e netos, Armindo também repassou a técnica para crianças da fazenda. A escola da Nhumirim tem atualmente 25 alunos no ensino fundamental. Todos moram ali e só deixam a fazenda nas férias escolares.
O chefe-geral da Embrapa Pantanal, José Aníbal Comastri Filho, disse que além da importância de se manter a transmissão do conhecimento tradicional, a atividade dos peões garante uma grande economia para a Unidade.
O supervisor de Campos Experimentais, Marcos Tadeu Araújo, disse que um laço de 12 braças feito na fazenda é usado para laçar touros. "Ele vale uns R$ 400 no mercado. O couro do Pantanal é um dos melhores do mundo", afirmou.
A pesquisadora Alda Campolin, pedagoga que atua na área de agricultura familiar, disse que para as crianças e jovens rurais, a herança profissional tem papel fundamental na sua formação.
"A identidade deles se constrói com base no 'saber profissional', enraizado na tradição familiar. O viver no campo, em estreita integração com a natureza e com a família, permite que crianças e jovens rurais construam um saber que se transforma em saber profissional", afirmou. Isso acontece à medida que as especificidades da vida rural exijam ampliar o uso de recursos disponíveis no seu entorno.
Essa dinâmica é fundamental para garantir a reprodução familiar. As estratégias dessa reprodução variam desde o aproveitamento dos excedentes até a busca de melhores índices de produtividade.