sexta, 09 de novembro de 2007
Campo Grande News
O governador de Mato Grosso do Sul, André Puccinelli (PMDB), sinalizou, nesta quinta-feira, o interesse em retomar um debate polêmico: o da flexibilização das áreas que podem receber usinas de transformação de cana-de-açucar no Estado. Ao lançar a primeira etapa do Zoneamento Agroecológico de Mato Grosso do Sul, em 11 municípios da Bacia do Pantanal, Puccinelli discursou afirmando que o estudo, uma espécie de mapa do solo e do clima da região, vai ser um instrumento de "indução ao crescimento" estadual, e sugeriu a retomada do tema dizendo que "quem sabe a Bacia do Paraguai, quem sabe o Planalto, não possam receber eventualmente a cultura de cana".
Uma lei estadual e uma resolução do Conama (Conselho Nacoinal do Meio Ambiente), da década de 80, impedem que usinas de transformação da cana sejam instaladas tanto no Pantanal como no Planalto na região Norte do Estado, que embora não seja região pantaneira, contém rios que abastecem esse bioma. A proibição tem base no risco de que empreendimentos do tipo possam contaminar as águas desses rios e, por conseqüência, chegar até a planície pantaneira.
Em 2005, houve uma tentativa de mudar essas regras no Estado, e o barulho foi grande. A proposta veio do então secretário de Produção, Dagoberto Nogueira, hoje deputado federal, e provocou a revolta dos ambientalistas. Não chegou a ir a votação, mas causou comoção, depois da morte do ambientalista Francisco Anselmo Gomes de Barros, o Franselmo, que ateou fogo ao próprio corpo, durante um ato contra a proposta.
Ao falar do tema, esta manhã, Puccinelli fez menção indireta ao episódio. "MS não quer mais ter ícones imolados em praça pública", afirmou no discurso de lançamento da primeira parte do Zoneamento Agroecológico.
Temor - Coordenador do estudo, o pesquisador da Embrapa Solos do Rio de Janeiro Nilson Rendeiro Pereira, afirmou esta manhã que existe uma preocupação dos estudiosos na liberação de instalação de usinas na região do Planalto, em relação à proteção do Aqüífero Guarani, maior reserva subterrânea de água potável do mundo, que tem 25% de sua área no Brasil em Mato Grosso do Sul. São áreas, conforme Rendeiro, de maior fragilidade, e por esse motivo merecem cuidado especial.
Existe, na linguagem dos pesquisadores, uma mancha de terra que perpassa seis municípios sul-mato-grossenses, nessa região de Planalto, onde ficam as chamadas áreas de recarga do aqüífero, com solo poroso, que absorve rapidamente a chuva, e por isso garante reabastecimento do reservatório. Justamente por ser poroso, esse solo também absorveria qualquer substância que representasse risco, como alertam os pesquisadores.
"Zoom" - Ao explicar o Zoneamento Agroecológico, que teve a primeira etapa lançada hoje, o pesquisador disse que se trata de um "zoom" que estratifica melhor o ambiente, ao estudar, numa escala bastante detalhada, o solo e o clima da região estudada.
Com isso, a intenção é municiar produtores, pesquisadores e autoridades que lidam com a produção rural no Estado de informação, um insumo básico para o direcionamento da produção agrícola moderna. Com isso, conforme a avaliação da secretária de Produção, Tereza Cristina Correa da Costa, os produtores têm menos chances de errar na hora de decidir o que e quando plantar.
Na avaliação da secretária, até os bancos poderão usar as informações na hora de definir os seguros agrícolas. Com mais exatidão nas informações, os erros ficariam mais raros e, portanto, os seguros seriam menos acionados e a tendência seria que eles ficassem mais baratos.
Políticas de incentivo fiscal do governo também podem ser beneficiadas, conforme a secretária. Ela citou o exemplo do interesse de incentivar o plantio de florestas de eucaliptus. O zoneamento, observou, vai ajudar o estado a definir onde esse incentivo fiscal deve ser amplicado.
Por enquanto, o trabalho está pronto em 11 municípios, de um total de 33 dessa primeira fase. Os outros devem ter o levantamento pronto até janeiro e para o restante do Estado não há prazo.
Conforme a secretaria, a demora se explica pela falta de pesquisadores disponíveis para tocar o estudo de uma vez. A escala estudada é a mais detalhada já realizada no Estado e no País, conforme os responsáveis. Ela é de um para mil. Ou seja, a cada centímetro que constará dos mapas, serão representados mil metros em escala real.
Essa parte do estudo já concluída tem custo de R$ 1 milhão. A previsão de publicação do estudo completo é para 2009. O trabalho foi iniciado em 2004, no governo Zeca do PT, ficou parado, e foi retomado este ano, na administração do PMDB.