quarta, 31 de outubro de 2007
MS Notícias
Para quem só teve oportunidade de ver jacarés e crocodilos pela televisão, tocar um animal desses e até segurá-lo, posando para fotos, pode parecer utopia ou parte de um roteiro de filme de aventura. No entanto, isso é realidade em uma propriedade localizada distante 230 km de Campo Grande, no Mato Grosso do Sul. Em pleno Pantanal da região de Miranda/MS, a fazenda Cacimba de Pedra - Reino Selvagem vem se transformando em destino turístico de centenas de turistas estrangeiros que correm até lá periodicamente para ver de perto o cultivo, em regime de confinamento, de 12 mil cabeças de jacarés-do-pantanal (Caiman crocodilus yacare).
Tudo surgiu no final dos anos 80 quando o produtor rural Gerson Bueno Zahdi resolveu investir em pesquisas de reprodução e criação do animal. Depois de desenvolver uma tecnologia própria que gerou o surgimento do jacaré precoce (que é abatido com pouco mais de um ano de idade com até oito quilos de peso), a novidade fez com que um público sedento por aventura e adrenalina não resistisse à tentação de visitar a fazenda para conhecer tudo de perto. Há pouco menos de dois anos, Zahdi e sua esposa, Rosaura Dittmar, não tiveram outra opção a não ser transformar a fazenda em hotel-fazenda.
A fazenda conta hoje com receptivo, restaurante, parque aquático piscina (no formato de um jacaré), pomar, rendário e atividades de acompanhamento da lida com o jacaré e com o gado de corte, potencializando o turismo rural em torno das atividades econômicas ainda consideradas principais (a pecuária bovina e a produção de jacarés em cultivo). "O turismo hoje já corresponde a 10% de nosso faturamento, contra 40% da exploração econômica do couro do jacaré e 50% da pecuária bovina de corte; no entanto, pelo ritmo crescente logo o turismo representará 30% de nossa receita", garante Zahdi.
Na verdade, Zahdi é o único empreendedor rural que desenvolve atualmente o cultivo do jacaré-do-pantanal no Mato Grosso do Sul com devida autorização do Governo Federal. E o fruto de quase 20 anos de trabalho hoje rende projeção nacional e internacional. Recentemente, a Rede Globo gravou cenas para capítulos da novela Alma Gêmea, com a atriz Priscila Fantin. Nestas cenas, a estrela global se inteirou e conviveu com os jacarés de forma muito próxima à qual os turistas também podem fazer.
E a imagem de local paradisíaco, selvagem e de aventura atravessou as fronteiras brasileiras e ecoa em boa parte da Europa. "Posso dizer que hoje 80% do meu fluxo turístico são de europeus, principalmente de países como Holanda, Portugal, França e Bélgica", garante Zahdi.
E para quem acha que visitar a Cacimba de Pedra é apenas "ver" jacarés, com certeza irá se surpreender. Tudo começa com a facilidade de acesso. De Campo Grande até lá são, no máximo, duas horas e meia de viagem de automóvel e sem nenhuma correria. Pega-se a BR-262 até Miranda (200 km); no trevo da cidade dobra-se a direita em direção ao distrito de Agachi. Daí em diante são mais 16 km de estrada asfaltada e outros 11 km de estrada vicinal de terra batida mas em bom estado de conservação. Este percurso também pode ser feito tranquilamente à noite uma vez que a Cacimba de Pedra preocupou-se em instalar uma sinalização noturna em todo o trajeto. É Praticamente impossível se confundir.
Logo no receptivo do hotel-fazenda, os hóspedes são recebidos pela gerente geral Hellen ou, invariavelmente, pelos próprios proprietários: Gerson e Rosaura, ela que cuida mais da administração da atividade turística na propriedade. Esta recepção geralmente passa por uma sopa ou caldo de jacaré. Depois de acomodados em seus apartamentos, os turistas têm opções diversas de atividade, como a visita ao matrizeiro e ao "berçário" ou células de desenvolvimento. No primeiro, ele tem contato bem próximo com os jacarés adultos, de aproximadamente três metros de comprimento. Podem tirar fotos e até alimentar os animais. Na área das células, o visitante acompanha as diferentes fases de desenvolvimento do animal a partir da eclosão dos ovos capturados na natureza - sistema ranching de produção. Neste local os jacarés crescem até por volta de um ano e um ano e meio de idade, quando são abatidos.
Também é possível fazer a focagem noturna de jacarés, um espetáculo fantástico, uma vez que os olhos dos animais refletem com espantosa naturalidade as luzes emitidas por lanternas ou faróis de automóveis. Mas além do jacaré, o turista acompanha também a lida com o gado bovino (são cerca de duas mil cabeças na fazenda) e pode se aventurar em uma farta pescaria, mas com apenas um detalhe: não é permitida a captura dos peixes; todos eles são levados de volta para a água.
De volta à sede da fazenda é hora de matar a fome. O prato principal, como não poderia deixar de ser, é o jacaré. No entanto, ao contrário do que se possa imaginar, sua carne possibilita o preparo de várias e diversificadas iguarias gastronômicas. Isso pelo fato de se aproveitar quase todo o animal: patas, coxas, sobrecoxas, filé da cauda, file ventral, filé dorsal e pescoço. Dos pratos que impressionam podem ser citadas as "patinhas de jacaré" e "iscas de jacaré" (excelentes tira-gosto), jacaré ensopado, o filé grelhado e flambado além do exótico sashimi de jacaré.