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domingo, 18 de janeiro de 1998

Filme: Brava Gente Brasileira

Lívio Tragtenberg

O Elenco

Diogo Infante - Diogo
Floriano Peixoto - Pedro
Luciana Rigueira - Ánote
Leonardo Villar - Comandante
Buza Ferraz - Antônio
Murilo Grossi - Ex-jesuíta

Participação especial: Sérgio Mamberti, como padre

Apresentando os kadiwéu:

Adeilson da Silva, como menino branco
Vanessa Marcelino, como Anoã
Hilário Silva, como Oiadetelegute
Wiliam Soares, como pai de Anoà
e a Comunidade Kadiweu

APRESENTAÇÃO

A academia e a indústria cultural vêm, já há algum tempo, criticando a imagem "politicamente incorreta" de uma conquista pacífica da América. Os 500 anos da descoberta - uma palavra também questionada pois pressupõe a inexistência de outras civilizações no Novo Mundo - foram comemorados com inúmeras produções que mostravam outros pontos de vista que não o do colonizador. No entanto, o mesmo não se pode dizer do Brasil, particularmente sobre a história da conquista do oeste e delimitação das fronteiras que fizeram dele um país de dimensões continentais. Uma história que consegue mesclar carnificinas e mestiçagem. Uma integração racial feita a ferro e fogo.

    

Este filme se propõe a trabalhar em cima de um fato verídico ocorrido em Mato Grosso do Sul, na região do Pantanal, em 1778. Poucos anos antes - em 1775 - foi construído à beira do rio Paraguai o Forte Coimbra, com o objetivo de assegurar à Coroa Portuguesa este território, constantemente invadido por tropas espanholas. A região era habitada pelos índios cavaleiros da tribo guaicuru, que sobreviveram durante 300 anos guerreando tanto com os espanhóis quanto com os portugueses.

    

Em 1778, conta a história oficial do forte, que um grupo de índios aproximou-se do local pedindo para fazer negócios com os soldados e como prova de sua boa vontade, ofereceram suas mulheres. Algumas horas depois, os índios realizaram um dos maiores massacres que se tem notícias: 54 soldados foram mortos. Somente uns poucos conseguiram escapar com vida.

    

A proposta não é criar um épico, mas opor duas lógicas. A da civilização indígena e a portuguesa. Ambas se desagregando no choque cultural. O "selvagem", visto pelo português como incapaz de articular um pensamento, é capaz de elaborar uma estratégia militar (aliás bastante conhecida na história ocidental - o Cavalo de Tróia) utilizando da fraqueza manifesta do inimigo. De outro lado, a dualidade do colono branco que, ao final da vida, pede à Coroa proteção para sua família indígena. Se não existe pecado do lado debaixo do Equador, não existe também retorno.

EQUIPE TÉCNICA

roteiro e direção: Lúcia Murat
direção de produção: René Bittencourt
direção de fotografia: Antonio Luiz Mendes
montagem: Mair Tavares e Cezar Migliorin
direção de arte: José Joaquim Salles
cenário: Shell Jr
figurino: Inês Salgado
som direto: Heron Alencar
edição de som: Simone Petrillo e Carlos Cox
música: Livio Tragtenberg

SINOPSE

Pantanal, 1778, região do Médio-Paraguai, um grupo de soldados acompanha Diogo, astrônomo, naturalista e cartógrafo, recém-formado em Coimbra, que chega à região para fazer um levantamento topográfico para a Coroa Portuguesa. A coluna se encaminha para o Forte Coimbra, permanentemente assediada pelos índios cavaleiros, com quem Portugal está tentando um acordo de paz.

No caminho do forte, um batedor descobre um grupo de mulheres índias tomando banho num rio. Em meio a alguns desencontros, os soldados estupram as mulheres. Três personagens se destacam: Pedro, que chefia o grupo e é particularmente feroz, Diogo, que terá de confrontar sua formação "ilustrada" com a dura realidade da colônia, e Antônio, que carrega um mapa secreto com a localização de supostas minas de prata. Todos se envolvem na carnificina, até mesmo Diogo, a quem Pedro entrega uma índia que tinha se escondido na mata.
Diogo impede Pedro de assassinar a índia e todos seguem para o forte. Ali, o comandante vive com uma índia de outra tribo - guaná, já catequizada e aculturada - os conflitos crescem. O filme vai trabalhar em torno destas relações, que representam em última instância o conflito entre os dois mundos e na prática o surgimento de um terceiro, onde os conceitos dos dois lados começam a se desintegrar.

Assim é o conflito de Diogo entre a lembrança da noiva virgem portuguesa e a atração culpada pela índia; ou as tentativas do comandante em conciliar os dois mundos; ou ainda a ferocidade de Pedro que caminha enlouquecido numa ânsia crescente de violência como se buscasse um limite que o Novo Mundo não lhe dá. Finalmente, a fantasia de Antônio em torno das minas de prata que lhe toma corpo e alma, deixando-o incapaz de lidar com a realidade. O período das chuvas e da cheia vai significar uma trégua na luta com os guaicurus. Quando as águas começam a baixar, a possibilidade de paz ressurge. Mas uma surpresa ocorre.

PRÊMIOS:

· Seleção Laboratório Sundance Institute - Brava Gente Brasileira - 1998
· Seleção do Pólo de Cinema e Vídeo do DF
· Prêmio de roteiro do MINC - Brava Gente Brasileira - 1998
· Selo da Comissão de Descobrimento

TRILHA SONORA

A música do filme explora um ponto de vista próprio, mas que trabalha em conjunto com as imagens. Por vezes ela acompanha o desenvolvimento narrativo dos personagens dos portugueses e por vezes se relaciona com o universo indígena. Mas de nenhuma forma é uma música pseudo-indígena... a própria escolha de instrumentos-símbolos da música ocidental (do colonizador), os instrumentos de corda de orquestra como a viola e o violoncelo, remetem a esse universo europeu, criando um certo distanciamento em relação aos antagonismos entre o colonizador e o índios presentes ao longo do filme. De uma forma geral, a música do filme busca auxiliar, acentuar, certas nuances que já fazem parte da interpretação dos atores e das imagens captadas, buscando acrescentar elementos de narrativa menos localizados; o que é uma característica básica da música, ou seja, a multiplicidade de leituras.

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