sábado, 15 de fevereiro de 2003
Estadão
Hoteleiros e operadores somam forças para preservar o patrimônio natural, garantindo um ecoturismo de qualidade
Não é preciso dizer que o turista deixa Bonito extasiado. E como fica Bonito quando o turista vai embora? Há dez anos, eram duas agências, uma área de camping e mais uma ou duas pousadas. Hoje, o turismo superou a pecuária e a agricultura, tornando-se a principal atividade econômica da cidade de 16 mil habitantes.
São cerca de 24 agências e 43 estabelecimentos hoteleiros, num total de quase 2.700 leitos. Mas os nostálgicos dos tempos de turismo amador, quando o número de visitantes era menor, devem se lembrar de que a natureza também ficava totalmente exposta à ação de turistas sem a menor sensibilidade ecológica, que ora brincavam de tiro ao alvo nas estalactites, ora pichavam os próprios nomes nas paredes das grutas.
Com a atividade organizada em Bonito, mesmo não estando entre os mais ligados à ecologia o turista que vai para lá tem de entrar na linha pelo menos enquanto estiver no território. A maior parte das nascentes, cachoeiras e grutas está dentro de propriedades particulares, onde ninguém entra se não estiver acompanhado por um guia credenciado.
Assim, o dinheiro da visita é dividido entre o dono do passeio - proprietário do sítio turístico -, a agência e o guia local. Em Bonito, o Conselho Municipal de Turismo (Comtur) estabelece limites de turistas permitidos por vez e por dia em uma determinada atração. Além disso, a visita deve ser feita com hora marcada, para evitar ?congestionamentos?.
Descobertas
Na Gruta do Lago Azul, por exemplo, um dos cartões-postais de Bonito, permite-se um movimento diário de até 225 pessoas. ?A gente sempre quer pôr o máximo de pessoas, até perceber que aquilo compromete a atração?, admite o português Henrique Ruas, que começou há nove anos com uma área de camping, hoje dono da Agência e Pousada Olho Dágua.
Juca Igarapé, dono da Igarapé Turismo, é outro veterano de Bonito. Mudou-se de Santa Catarina para lá há 22 anos, quando "ninguém ouvia falar na palavra ecologia". Apesar de estar há tanto tempo na cidade, afirma que ainda continua descobrindo atrações na região. Suas duas últimas descobertas foram batizadas de Abismo da Borboleta e Caverna do Japão.
Os guias que trabalham em Bonito passam por cursos de capacitação - promovidos pela Embratur, Sebrae, Senac e Universidade Federal do Mato Grosso do Sul (UFMS) - em que aprendem, por exemplo, as particularidades da fauna e flora.
?A população de Bonito foi acordando para a galinha de ovos de ouro que tinha nas mãos?, conta Israel Waligora, geólogo e dono da Ambiental, operadora de turismo ecológico, que a partir de 1988 resolveu incluir um dia em Bonito no pacote de uma semana no Pantanal. A dobradinha deu certo. De acordo com Waligora, a principal diferença entre os dois santuários ecológicos, separados por duas horas e meia de distância, está no gerenciamento turístico. ?O que está acontecendo em Bonito está na contramão do que ocorre no resto do Brasil. O Pantanal está sendo destruído a olhos vistos, porque não há uma política de incentivo ao turismo.?
De acordo com o operador, a fragilidade do ecossistema de Bonito é evidente. ?Como chove muito no verão, se a vegetação da beira dos rios (mata ciliar) for desmatada o solo fica sujeito à erosão.? Waligora aponta dois problemas que se não forem tratados poderão trazer muita dor-de-cabeça daqui a alguns anos: esgoto e lixo. Segundo o geólogo, o impacto ambiental na região ainda não é significativo, mas pode vir a ser com o ritmo de crescimento do turismo na cidade.
Carolina Glycerio
30/08/2023 - 00:00