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quinta, 26 de agosto de 2010

Terra, a nossa casa - Parte 1

A Terra - nossa desigual casa
(da liberdade à qualidade ambiental)
Série: Terra, a nossa casa - parte 1

Helcias Bernardo de Pádua
Biól. CFBio 00683-01/D
helcias@portalbonito.com.br
Set/2005

O mês de setembro, para nós interessados  pelos  fatos históricos, pelos direitos e deveres dos seres humanos, pela qualidade e equilíbrio ambiental, é um dos mais pródigos em datas comemorativas. Inicia-se, entre outras comemorações, com o “Dia Nacional do Biólogo, 3 de setembro”, consagrado à data de assinatura da Lei nº6684 regulamentadora da profissão de Biólogo, quando se criou os Conselhos Regionais e Federais, isso em 1979. Chega-se  na  “Semana do Meio Ambiente”, com o dia 5 de setembro, “Dia Mundial do Meio Ambiente” criado  pela ONU em 1972, data esta coincidente com o “Dia  da Amazônia” e  o “Dia da Ecologia”. Tal semana, as vezes, transcorre junto com a nossa “Semana da Pátria”, que lembra a Proclamação da Independência do Brasil, em 7 de setembro, (1822), a libertação do julgo colonizador português, às margens do riacho do Ipiranga(*), atualmente bastante alterado, retificado, desprezado e as vezes muito fétido, ladeando o belíssimo e imponente Museu do Ipiranga, em São Paulo. Visitem, é muito importante e lindo.

Continuando, podemos ainda citar o 19 de setembro, como o “Dia Mundial pela Limpeza da Água; o “Dia da Árvore”-21 do mesmo mês; “Dia do Movimento de Defesa da Fauna-dia 22”;  Dia da Primavera -dia 23” e o “Dia do Ventre Livre, em 28 de setembro”. Quantas reverências e  comemorações!

(*) - O então príncipe Pedro fez uma rápida viagem à Minas Gerais e a São Paulo para acalmar setores da sociedade que estavam preocupados com os últimos acontecimentos, pois acreditavam que as suas mais recentes atitudes  poderia ocasionar uma desestabilização social.
Entre outras coisas, ele tinha, depois do Dia do Fico,( 9 de janeiro de 1822),  determinado que nenhuma lei de Portugal seria colocada em vigor sem o " cumpra-se ", ou seja, sem a sua aprovação. Convocou uma Assembléia Constituinte, organizou a Marinha de Guerra, obrigou as tropas de Portugal a voltarem para o reino. Além disso, o futuro imperador do Brasil, conclamava o povo a lutar pela independência.

Durante tal viagem, D. Pedro recebeu uma nova carta de Portugal que anulava a Assembléia Constituinte e exigia a volta imediata dele para a metrópole. As notícias chegaram as mãos do príncipe  quando este estava em viagem de Santos para São Paulo. Parou próximo ao riacho do Ipiranga, levantou a espada e gritou : " Independência  ou  Morte ". Pelo menos é isso que cita a história contada  nos bancos escolares.

O ato é  imortalizado em um belo quadro de Pedro Américo. O  dia era  7 de setembro de 1822  e  marcou a liberdade  do  nosso país. Então, no mês de dezembro de 1822, D. Pedro foi declarado imperador do Brasil e os primeiros países que reconheceram a nossa independência  foram os Estados Unidos e o México. Portugal  exigiu do Brasil o pagamento de  2 milhões  de  libras  esterlinas para  reconhecer a perda  de  sua ex-colônia. Não tinhamos tal  dinheiro e  o  agora D. Pedro I,  recorreu a um  empréstimo  da  Inglaterra  dando início à nossa dívida externa, sendo  credor o  intermediário, este o  mais interessado, a Inglaterra, beneficiando  o pai  do devedor.  Aponta-se ai mais um “negócio  de  família”, D.Pedro I  para  o  Rei  de Portugal.

Embora tenha sido de grande valor, o ato  da  independência   não provocou rupturas sociais no Brasil. O povo mais pobre se quer acompanhou ou entendeu   o significado da independência. A  estrutura  agrária  continuou a mesma, a escravidão  se manteve e a distribuição de renda continuou  desigual. A  elite  agrária, que deu suporte D. Pedro I, foi a  que mais se beneficiou. Sem contar que bem antes Tiradentes, (Inconfidência Mineira), havia sido enforcado, esquartejado, salgado e suas  partes  expostas e  espalhadas  por  vastíssima  área,  a  mando  da  coroa portuguesa, por querer  apenas  liberdade de  um   povo.

 - É, desde então, nada mudou. -
Vocês sabiam? – em 1822, pouco antes da proclamação da Independência, a  música (melodia) do nosso Hino Nacional  já  era  ensaiada  e tocada  nos quartéis pelas orquestras  ou  bandas militares!

Voltemos ao tema: - a disciplina ou a ciência denominada “Ecologia”, termo formado usando-se duas palavras: a Eco, do grego Oikos, significando, casa/lar  e a outra Logia, (estudo, ciência), sendo citada pelo naturalista alemão, Ernest Haeckel, em 1866, metade do século 19, no livro “Morfologia Geral dos Organismos”, embora muitos milênios antes os filósofos gregos já se preocupavam com a interelação entre os seres vivos e os materiais não vivos.

Haeckel definiu a nova ciência, como uma disciplina científica cuja função era estudar as relações entre as espécies animais e o seu ambiente orgânico e inorgânico. Notem que esse nosso colega biólogo, usou apenas a palavra animais  e não citando vegetais. Será que ele esqueceu, se enganou ou mesmo errou? Outra definição atribuída ao mesmo autor: “ciência dos costumes dos organismos, suas necessidades vitais e suas relações com outros organismos”.

Atualmente, a  “ciência  da  casa”, é vista como a disciplina que estuda todas as relações entre os seres vivos, (também os seus demais não vivos), com o ambiente, na verdade expandido-se à um “movimento de caráter  social e  político”, dirigindo-se ao campo do pensamento, fazendo uso de inúmeras ou todas as disciplinas presentes. Ao meu ver, “um movimento humanitário de preservação e conservação”. Haeckel também usou a termo “Etologia” como sinônimo de Ecologia, porém modernamente o termo Etologia se reserva ao estudo dos costumes.

No Brasil, pode-se dizer que o evento que apresentou oficialmente, por assim dizer, para todos nós brasileiros essa preocupação pelas relações entre os seres e o ambiente, foi na 1ª Conferência Brasileira de Proteção à Natureza, no Museu Nacional/RJ, em 1934. Seguiu-se 3 anos depois pela  criação do primeiro Parque Nacional Brasileiro, em Itatiaia/RJ. Bem posteriormente, em 1958, tem-se a criação da Fundação Brasileira para Conservação à Natureza.

Em termos de movimento global e o mais expontâneo pode-se citar o então chamado “hippie”, (paz e amor), embora com uma exposição aberta contra a forma de cultura social vigente, na época, década dos anos 60, por isso  apontada como uma “contracultura”, mas que levantava a bandeira pacificamente, porém contestadora, impondo um pensamento mais livre. Falou  bicho!

Não quero um mundo árido e fético, mas sim um mundo com ar limpo,
águas claras, terra negra e fértil, animais abundantes e variados. Quero um mundo vivo,
 um mundo sadio, e também porque não – um mundo belo. (Laura Conti)”

Mas como estaria agora esse mundo?

Para cada criança que nasce nos Estados Unidos da América, consome-se, em média, o equivalente o que consome 50 crianças na Índia e 2/3 dos habitantes da Terra  é apontado como vivendo na miséria, informavam Lago & Pádua, (1989),  no livro O que é Ecologia. Obs.:-  o Pádua ai é  José Augusto Pádua.

Cada habitante de uma cidade como São Paulo é responsável pela produção média diária de 0,6 kg de lixo, da qual cerca de 85% é constituída de materiais biodegradáveis ou biológicamente recicláveis. Isso significa um total de 5 mil toneladas diárias de materiais recicláveis, rejeitadas por uma população de 10 mil habitantes ou quase 2 milhões de toneladas por ano, escreveram Branco & Rocha, (1984), em “Ecologia:: Educação ambiental”.

No encarte de um desses  jornais diários ou numa dessas revistas pouco mais científicas, li recentemente que o computador moderno, tipo PC,  desde a sua carcaça até na composição dos equipamentos eletrônicos, apresenta partes fabricadas com alguns metais, dos mais tóxicos como o mercúrio, o cromo, chumbo e o cádmio, além de ter componentes com o arsênio, selênio, bromato, óxido de antimônio e o cloreto de polivinil, o PVC. Eles estão sendo usados na média uns 6 anos, nos países de primeiro mundo, sendo jogados, isso mesmo, desprezado-se cerca de 20 a 50 milhões de toneladas/ano de resíduos eletrônicos e que em 5 anos esse valor será triplicado. Lembremos que 94% desses materiais são perfeitamente recuperados ou recicláveis.

Branco & Rocha (op cit), refletem: “particularmente, de 30 anos para cá, as manifestações contra uma espoliação e descaso pelo meio ambiente tidos como um “preço a ser pago pelo progresso” passaram a ser sentidas e percebidas não só por grupos restritos de cientistas, economistas, políticos, administradoras, mas também pelo público mais amplo e uma nova fase de reformulação de atitude e de ações se definiu: - na realidade, a cada decisão de estabelecer uma política completa relativa a qualquer problema, inclusive os ambientais, corresponde uma forma de agir que pode ir desde a “indiferença” ou o “fazer nada” com relação ao que ocorre, até um curso de ação bem definido e estabelecido nos seus propósitos. Olha, vê-se ai a manifestação explícita do “movimento de caráter social e político” que a questão ecológica atinge.

Preço a ser pago pelo progresso - Dentro do que se chama de “hierarquia dos recursos naturais”, a água ocupa o segundo lugar de importância, antecedida  pelo ar e precedida pelo solo fértil, depois pelos animais e vegetais, finalizando com os minerais e combustíveis fósseis. Os gastos de água doce na cidade do Rio de Janeiro estão em torno de 450 litros por habitante-dia, já em Nova Iorque usa-se 1045 l/habitante-dia.

No 3º Fórum Mundial da Água/Kioto, (16-23 de março de 2003), o grupo de trabalho “On financing global water infraestructure” conclui que: - “serão necessários de 80 a 180 bilhões de dólares para que se forneçam respostas positivas às questões cruciais da água Isso até 2015, com redução à metade dos atuais, (na época), 1.4 bilhão de seres humanos sem acesso à água potável e  aos serviços de água e esgotos”. Calcula-se que a população atual da Terra passe de 6,1 bilhões de pessoas.

No Brasil, 25% ou 40 milhões de pessoas, dos seus 170 milhões de habitantes, (IBGE, 2000),  não tem acesso à água potável e pouco mais da metade, mais de 50% da população vive em  áreas sem redes de água e esgotos. Segundo a UNESCO, (decênio hidrológico, de 1965 a 1975), estimava que na pior das hipóteses, sete bilhões de pessoas em 60 países estarão enfrentando falta de água na metade deste século XXI e que na melhor das hipóteses. serão dois bilhões de pessoas em 48 países nesta situação. Nos maioria dos países onde se tem a universalização da oferta de água, 90% da população é abastecida e o serviço de coleta de esgotos atende cerca de 80%, com uma perda por vazamentos, roubo, etc., de 5 a 15%, sendo considerada como razoável
Os astronautas na década de 1960 ao virem a Terra do espaço exclamaram  extasiados, numa primeira vez, - a Terra é  azul  e  branca - , após anos de experimentos e bilhões de dólares aplicados. Pois então, 2/3 da sua superfície esta coberta de água, portanto predominando, idéia essa que remonta aos tempos primitivos. Tudo isso num conjunto ordenado e integrado de sistemas – a atmosfera, a litosfera, a biosfera e a hidrosfera – , porém o fato de a humanidade ser incapaz de agir conforme esta ordenação natural está pondo em risco sua permanência no planeta, finaliza Rebouças (2004).

E a Ecologia do ponto de vista social e humano, como esta? - Vamos citar o que a ONU divulgou recentemente, no início deste mês de setembro/2005 o seguinte:- “dos 177 países analisados quanto ao IDH-Índice de Desenvolvimento Humano”, o campeão com melhor desenvolvimento é a Noruega e o último colocado é o Niger-África Subsaariana. O Brasil esta em 63º lugar, apresentando certo avanço na saúde da população, mas com enorme desigualdade nos itens educação, longevidade e renda. Quando o item aplicado for de “desigualdade entre ricos e pobres”, o Brasil se enquadra  em 9º lugar entre os piores”. A  ONU ainda classifica o nosso pais na faixa de “desenvolvimento humano médio”, como 6º colocado, precedido pela Rússia,  Malásia, Antígua e Barbuda, Macedônia e Líbia,  num grupo de 58 países.

Segundo  Ricardo Fuentes-PNUD, o lugar de 63º quanto ao IDH, como um todo, deve despencar para o 115º colocado quando o indicador  for a “média dos países mais pobres” e ainda mais, o professor Marcelo Paixão/UFRJ alerta que  esse índice (IDH) cai muito mais caso se analise por grupo étnico, ou seja, os brasileiros declarados negros e pardos, (44% de negros e 39,9% de  chamados pardos, segundo o IBGE), comparando-os com os atuais declarados brancos. Os nossos índios são enquadrados com o “IDH semelhante ao da Bolívia”. Já a população considerada  amarela apresenta esse índice semelhante aos países de 1º mundo. Será? E como estarão os negro, os pobres brancos e os mestiços vitimas do Katrina,  lá nos Estados Unidos da América? Ainda seria o pais líder mundial em desenvolvimento econômico e tecnológico ? E  as  populações do gigante  deliberadamente  desprezado, o  continente  africano?
 
Igualdade era tudo que os miseráveis precisavam na época, uma vez que eram maltratados e não eram respeitados na sua dignidade. - Herodoto Barbeiro, 2004, referindo-se ao clamor daqueles, na “Revolução Francesa”,  pouco depois de ter sido escrita a “Declaração de Direitos Universais do Homem  e  do Cidadão-Séc. VIII/França”.  É  jornalista-CBN e Tv Cultura/SP, advogado, professor, (deu aula de História/ USP  e  foi  meu professor no pré vestibular-Objetivo/SP), escritor, historiador, praticante do budismo, corinthiano,  intelectual petista  e  desde 2004  imortal pela APH-Acad. Paul. de História, (cad. nº19).
 Igualdade, liberdade e fraternidade - H.B.Pádua-biólogo

Recomenda-se

- B.S.C.S. – Biologia – da molécula ao homem. Original: Biological Sciences Curriculum Study-USA Michigan - Série Azul. Tradução: Coord. Myriam Krasilshik et al. Brasília/Br: Edição preliminar, Brasília. Ed. Univ. Brasília, 1966. I e II vol.
- Barbeiro, H. – Em busca da verdade – o processo histórico na visão de jornalistas e historiadores. SP/SP: Acd.Paul. de História, 2004. 40p.;il
- Bertelli, L. G. – Símbolos nacionais: utilização e significados. SP/SP : CIEE, 2004. 172p.
- Branco, S.M.  &  Rocha, A.A.. - Ecologia: educação ambiental. Ciência do ambiente para universitários. SP/SP: CETESB, 1984. 206p. ilust..
- CMI Brasil. – Independência do Brasil. Centro de Mídia Independente. www.midiaindependente.org
- FSP – Folha de São Paulo-Jornal diário. SP/SP, 7 e 8/09/2005
- Lago, A. & Pádua, J.A . – O que é ecologia. SP/SP : Ed. Brasiliense – 8º ed. 1989
- Rebouças, A – Uso inteligente da água. SP/SP. Escrituras Editora, 2004, 207p.
- Rónai, P. – Dicionário universal de citações. RJ/RJ. Ed. Nova Fronteira, 1985
- Sit : http://www.suapesquisa.com/independencia. Independência do Brasil. Sua pesquisa.com. Aberto em set/2005
- S.M.C.S.P. –Museu Afrobrasil. Curador: Emanoel Araújo. Pavilhão Padre Manoel da Nóbrega/Ibirapuera:SP/SP. Secretaria Municipal da Cultura, 2004. e.mail: museuafrobrasil@prefeitura.sp.gob.br

HBPáduaSP set-2005

COLUNISTA

Helcias de Pádua

helcias@portalbonito.com.br

Professor Helcias Bernardo de Pádua, Biólogo-C.F.Bio 00683-01/D; Conferencista em "Qualidade das águas"; Especialista em Biotecnologia-C.R.Bio 01; Analista Clínico - Hosp.Clínicas SP; Professor de Biologia e Ciências-L-94.718-DR 5 - MEC, desde 1975; Consultor, professor e colunista; Memorista-AGMIB/Assoc. Grupo de Mem. do Itaim Bibi/SP; Graduando em Jornalismo/FaPCom

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