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quinta, 26 de agosto de 2010

Água - Parte 22

ÁGUA  - Ponte vital entre os seres
(e entre estes  e  os  deuses)
Série ÁGUA – Parte 22

Helcias Bernardo de Pádua
C.F.Bio 00683/01-D
helcias@portalbonito.com.br
tel.11-9568.0621

A  fonte que não se cansa de jorrar a água,
nos ensina a não nos cansarmos na busca da paz
 e no respeito à natureza. Aparecida/SP, 2005

“Quem dentre vós pode tornar límpida a água lamacenta? Deixai-a quieta, no entanto, e ela, por si só se tornará transparente”, afirma Lao tsé. Continuando “nada mais suave  e frágil do que a água, e no entanto, nada é tão eficaz para atacar as coisas duras e fortes”.

Em sua transparência, oferece a sublimação pelo que possui de superior, elevando através de um convívio que encaminha para a purificação. Ao propiciar o encontro, banha-nos de reconhecimento, habitantes de um reino singular. Atingida a plena comunicação, comungamos, criaturas e Criador, santificados pela imersão redentora”, afirma Bentancur (1996) ao comentar na publicação “A magia das águas” a relação delas com os deuses, e indo mais além ao apontar que “a água configura primeiro: a passagem; segundo: a transcendência; terceiro: o encontro; por último, a comunhão. A água, continua, “em fim, sopra sobre a face de todos e nos dá uma voz universal”.

No candomblé, Iemanjá, a mãe de todos orixás, p.ex.: Xangô, Iansã, Oxóssis, etc., representando o orixá feminino das águas, em especial do mar, sendo  no Brasil, cultuada e reconhecida por outros inúmeros nomes como: Janaína, Princesa de Aiucá ou do Aiocá, Sereia do Mar, Rainha do Mar, Senhora das Águas. No catolicismo temos a história da imagem que apareceu nas águas do rio, a Aparecida das Águas, a incomparável Senhora da Conceição Aparecida.

Na física, a água é a substância escolhida como padrão para definir a unidade de quantidade do calor, a caloria-cal, sendo esta unidade definida como “caloria é a quantidade de calor necessária para que 1 grama de água pura, sob pressão normal, sofra uma elevação de temperatura de 1 grau Celcius, (14,5ºC  para 15,5ªC)”.

Na verdade, a água é uma mistura de elementos, uma combinação de muitas substâncias. Sabemos que  até a mais pura das águas contém outros elementos além dos átomos de hidrogênio e oxigênio. Pois é, além disso, a molécula de água pode conter porções ínfimas de deutério, um átomo de hidrogênio que pesa mais do que o ordinário, (comum, conhecido), átomo de hidrogênio. Ai então, essa água formada  pela combinação do oxigênio como o deutério é chamada de  “água pesada”. Não confundir com a “água dura”, esta  composta pela presença de sais que podem formar os carbonatos.

Aristóteles, (384-322, a.C.), um dos maiores e mais influentes pensadores gregos, afirmava que “a água é um dos quatro elementos fundamentais formadores do Universo”, ou seja, junto com o fogo, o ar e a terra. Foram os químicos Lavoisier (1743-1794) e Cavendish (1731-1810) que verificaram que a molécula da água era composta pelos elementos hidrogênio e oxigênio, e atualmente, sabe-se que uma gota d’água é composta por milhões de partículas pequeníssimas, os átomos. E pasmem, até o século XVIII, a água era considerada como um “corpo simples”. No decorrer desse século, nos cem anos de 1700,  quase que ao mesmo tempo dos pesquisadores anteriores, outro químico e também teólogo inglês, Joseph Priestley, (1781) realizava, por combustão, a síntese do hidrogênio. Em 1805, século XIX, Gay-Lussac (1778-1850) e Humboldt (1769-1859) determinaram e afirmaram que na molécula da água a relação hidrogênio/oxigênio era de 2 para 1, ou seja, de dois átomos de hidrogênio para um átomo de oxigênio, conduzindo à fórmula simples de molécula linear-H2O, ou seja, ligação covalente, onde cada átomo dos dois hidrogênios esta ligado ao um único átomo de oxigênio, (Rebouças, 2004).

A estrutura da molécula da água, até hoje em dia, ainda não teve suficiente definição e uma lógica configuração, e olhe que o homem já pisou na Lua e enviou maquinas, equipamentos, robôs, etc. ao cosmo, mas ainda não foi capaz de explicar convenientemente  algumas, e ponha-se algumas nisso, das propriedades físicas e físico-químicas dessa importante e necessária substância, a água. Por exemplo, a teoria cinética dos líquidos, em geral, admite uma proporcionalidade entre pressão, volume e temperatura, pressupondo uma estrutura esférica, super animada com movimentos constantes. Porém na água, isso não ocorre, aparecendo com uma estrutura bem diversa à inicialmente esperada, pelo menos quando próximas  de 4ºC, afirma Branco (1986).

Ainda mais, atualmente temos conhecimento que as moléculas de água podem se inserir entre íons de certos outros, como do cristal de certos sais, de ácidos e bases, que orientam suas cargas elétricas para as partes com cargas elétricas de sinais opostos. Isto resulta numa considerável redução da atração entre os íons cristalinos, diminuindo a coesão do cristal, facilitando sua dissolução. É deste desequilíbrio na repartição das cargas elétricas, conjugada com a geometria “não linear” , portanto correta,  da molécula d’água,  explicando assim o que resulta na existência de um forte momento bipolar elétrico que tem como corolário o fato de a água ser o “solvente universal”, (Rebouças, op cit).

Continuando, teoricamente, pelos estudos cosmogênicos modernos, a água pode se formar naturalmente em diferentes regiões do Universo a partir de seus constituintes fundamentais- o hidrogênio-H e o oxigênio-O.  Entretanto, a presença desses elementos não é condição suficiente e necessária para que a água se forme. Salienta-se ainda que o hidrogênio representa mais de 70% da massa do Universo visível, enquanto que o oxigênio esta presente apenas com 1% e, que somente cerca de dois milionésimos da massa do Universo estariam sob a forma molecular de H2O, portanto fora de questão que tal substância, a água, possa existir em todo ou tal ambiente, salvo na fina película que cobre a superfície de certas estrelas, lugar privilegiado para sua formação. A Terra é o planeta que a forma líquida da água, comprovadamente, ocorre e em grande abundância, sendo, por enquanto, o único corpo do Universo onde a água ocorre simultaneamente nos três estados físicos fundamentais, (Rebouças, op cit.).

Admitia-se a idéia que nos corpos do Universo situados, relativamente, mais próximos do Sol, as temperaturas seriam mais elevadas, de tal forma que a água só poderia ocorrer na forma de vapor, ao contrário, predominantemente, nos corpos do Universo situados, relativamente, mais distantes do Sol, as temperaturas seriam tão baixas que a água só poderia ocorrer ai na forma de gelo. Então, como Vênus esta situado a apenas 108 milhões de quilômetros do Sol, portanto com temperaturas, na sua atmosfera, bem elevadas, cerca de 450ºC positivos, de dia e de noite, tanto no seu equador como nos pólos, sua água sofreu evaporação. Já em Marte a água estaria na forma de gelo, pela sua maior distancia do Sol, com temperaturas baixas (cerca de 53º negativos), encontrando-se a forma de gelo, caso estivesse existido.

No cosmo a água poderia ser  encontrada  sob a forma de vapor ou de gelo, mas apenas na atmosfera de algumas estrelas, nas nuvens moleculares, formando inúmeros satélites de gelo, nos cometas e planetas. Como a observação da molécula de água nesse cosmo depende do estado em que esta poderá ocorrer -sólido, líquido ou gasoso-, nas galáxias, o vapor d’ água se apresenta diluído nos gases de hidrogênio molecular e de hélio, relativamente mais abundantes nesses ambientes, restringindo as possibilidades de identificação dessa molécula água no cosmo, em geral, tornando particularmente viáveis apenas observar no seu estado sólido,  Rebouças, (op cit.). Tal pesquisador ainda continua: na Terra a identificação da molécula de água na forma gasosa é muito difícil de ser feita, porque boa parte da radiação eletromagnética que nos chega do espaço é absorvida pelo vapor d’ água da sua atmosfera.

*Visto do espaço, o Planeta Terra é chamado de “Planeta Azul” ou “Planeta Água”, com a cor azul derivada, certamente, das grandes massas líquidas que compõem a nossa hidrosfera, como os oceanos, rios, lagos, etc.. Nos pólos e nos cumes das altas  montanhas cobertas de gelo, vê-se formações ou  pontos brilhantes que aparecem na escuridão do espaço, (Rebouças, op cit.).  Como eu, o autor, gostaria de ser um contemplativo cosmonauta.

Sendo a água um fluído como o gás, a condução do calor é muito pequena, ocorrendo com o fenômeno de propagação conhecido como “convecção”, forma de propagação dessa energia, através de correntes com transporte de matéria, (movimento de moléculas), da porção do líquido mais quente para a porção do líquido mais frio. Esse  fenômeno é diferente de um outro que ocorre nos sólidos, com a propagação típica do calor através da “condução”, sem que haja mudança na posição relativa de  partículas. Elas, as partículas, no caso por condução, vibram intensamente, transmitindo a energia na forma cinética, mediante choques entre suas vizinhas, as mais próximas.

Leitores, conhecidos, amigos, colégas,  vejam só: - com todas essas específicas propriedades, com todas essas participações na  vida dos organismos e nas crenças dos homens, com todas as suas importantes ações nas matérias inorgânicas e com tantas coisas ainda por serem explicadas sobre a água, e olhe que no artigo presente pouco se apontou, o homem inconseqüentemente, conscientemente,  vai influindo negativamente na sua qualidade. Até quando meu Deus, até quando???

Bibliografia

Aparecida, - Novena da festa de Nossa Senhora Aparecida. Aparecida/SP, edit. Santuário, CTcP., 2005, 48p.
Bentancur, P. -A fonte da inspiração. IN: A magia das águas, edit. Rioceli. Porto Alegre/RS, 1996, 132p.
Branco, S.M. –Hidrologia aplicada à engenharia sanitária.SP/SP. CETESB/ACETESB, 1986, 640p.
Rebouças, A – Uso inteligente da água. SP/SP. Escrituras Editora, 2004, 207p.

Aquilo que você mais sabe,
é o que mais  precisa  aprender,
pois o que já sabe, vai esquecer
e o que não sabe, vai saber.

COLUNISTA

Helcias de Pádua

helcias@portalbonito.com.br

Professor Helcias Bernardo de Pádua, Biólogo-C.F.Bio 00683-01/D; Conferencista em "Qualidade das águas"; Especialista em Biotecnologia-C.R.Bio 01; Analista Clínico - Hosp.Clínicas SP; Professor de Biologia e Ciências-L-94.718-DR 5 - MEC, desde 1975; Consultor, professor e colunista; Memorista-AGMIB/Assoc. Grupo de Mem. do Itaim Bibi/SP; Graduando em Jornalismo/FaPCom

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