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quinta, 26 de agosto de 2010

Muito bicho ou pouco espaço?

A observação de animais silvestres em seu ambiente natural é sem dúvida um dos principais atrativos nos destinos direcionados ao turismo de natureza. Ver aves, macacos, peixes, jacarés ou até mesmo invertebrados livres na natureza exerce sobre nós um fascínio especial. E, geralmente, quanto mais bicho melhor.

Esses dias eu estive visitando a reserva particular de uma fazenda e fiquei impressionado com a quantidade de animais que vi durante uma curta caminhada no início da tarde: bandos de macacos, queixadas, quatis, araras e tatus. Porém, ao mesmo tempo em que me senti feliz por manter um contato tão próximo com a vida selvagem, eu fiquei muito preocupado. Deixem-me explicar.

De maneira simplificada, todo ambiente natural comporta uma determinada quantidade de espécies e uma tanto de indivíduos de cada uma destas espécies. Isto geralmente está associado às características do ambiente no que se refere à variedade e abundância de alimentos e de abrigo. Uma população de determinado animal se controla naturalmente de acordo com a oferta destes fatores, dentre outros.

Assim, da mesma forma que a ausência de alguns bichos pode indicar que eles foram eliminados de lá devido a alguma alteração na área, a presença excessiva de certos animais também pode indicar que está ocorrendo algum impacto ambiental. No caso deste lugar que eu fui, a mata era um dos últimos remanescentes intactos nos arredores. O restante era basicamente pastagem e lavoura. Ou seja, esta grande quantidade de bichos que eu vi pode ser conseqüência deles não terem mais para onde ir – conforme o desmatamento avança, eles procuram se refugiar nos lugares que sobraram.

Só que muitos animais concentrados em um espaço pequeno pode gerar problemas: primeiro, a pressão sobre os recursos naturais da floresta aumenta de forma descontrolada. Os macacos, por exemplo, podem começar a se alimentar dos ovos e filhotes nos ninhos das aves até eliminá-las de lá. Com estas aves desaparecendo, pode acontecer de determinadas espécies de plantas que dependem das aves para se disseminar virem a sumir também, em um processo cíclico e muito prejudicial ao equilíbrio natural.

A outra conseqüência negativa é com relação à chamada variabilidade genética. Com muitos indivíduos de uma espécie vivendo confinados em um ambiente reduzido, começam a ocorrer cruzamentos entre “parentes”, e isto torna a população muito homogênea e frágil em termos genéticos. Como resultado, estes animais ficam vulneráveis a doenças ou modificações no ambiente, tornando-se suscetíveis a extinções locais.

É meio chato pensar assim, mas cada vez que eu vejo notícias de araras e outros animais “do mato” aparecendo nas áreas urbanas de grandes cidades – coisa que não acontecia antes, conforme algumas pessoas mais antigas testemunham – fico preocupado com os motivos que podem ter levado estes bichos a “apelarem” para a metrópole. Mas é claro que não deixo de aproveitar a chance para apreciar a sua beleza!

COLUNISTA

Daniel De Granville

daniel@portalbonito.com.br

Daniel De Granville, Biólogo formado pela USP e pós-graduando em Jornalismo Científico pela Unicamp, reside em Mato Grosso do Sul desde 1994, onde tem se dedicado ao ecoturismo e à fotografia de natureza. Seu site pessoal é www.fotograma.com.br, e o dia-a-dia do seu trabalho pode ser conferido em www.fotogramablog.blogspot.com.

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